Thursday, June 16, 2005

Os filhos a menos

Esta anda-me a afligir há muito tempo.

Ouvimos justificações para tudo, convencem-nos de que tudo quanto é mau é inevitável. E pior... somos tão patinhos que acreditamos. Como é possível acreditar que o facto de nos sacarem uns trocos ao fim do mes e outros de cada vez que vamos às compras, vá impelir o país para uma situação cimeira, para o pelotão do desenvolvimento? Mas como é que é suposto sermos um grande país se a sua população não tem dinheiro para comprar um papo-seco? Para que raio quero eu que o país seja muito evoluído, se não tenho dinheiro para mandar cantar um cego.

Para quem será essa evolução?

É para ti, chefe? Que vais tu ganhar se a bolsa estiver a render, ou se o défice (?) diminuir à tua própria custa?

Mas esta entrada do blog é para falar dos filhos a menos, filhos e filhas. Aqueles que, por ordem divina, não há meio de nascerem. Esta foi uma das atoardas que nos mandaram para justificar isto e aquilo. O país está velho... não tem jovens e não há dinheiro para as reformas...

Ora bem, sim senhor, vamos lá a ver isso.

Se o problema é haver velhos demais, claro está, vá de aumentar a idade de reforma para que se desconte mais tempo, ou por outra, para te amarrar ao trabalhito por mais uns valentes anos. Mas cum raio! Porque é que o país está velho? O pessoal deixou de "amandar umas"? As tarefas íntimas já não são cumpridas como dantes? Ou antes, dita a natureza que o povo vá fazendo menos amor à medida que o tempo passa em Portugal? Parece, efectivamente, uma questão apolítica. O pessoal já não curte fazer bébés e prontos!

Mas então e as condições de vida? Então o desemprego? Como é que eu posso pensar em ter filhos se não tenho já que chegue para a merda da casita em que vivo, mais a porra do gás, da água, da luz, da comida pá boca e da roupita para me vestir? Como podemos pensar em procriar quando não temos um segundo para passar com os putos, porque os horários já não existem, trabalha-se e pronto, as horas que forem precisas!

Então e há poucos jovens? E mesmo assim os que existem estão no desemprego? E querem convencer-me de que, se houvesse mais, já havia trabalho para todos!? e entao o trabalho temporário e um gajo nunca saber se amanhã tem emprego ou se vai catar lixo? Isso não importa... Parece que deixamos todos de gostar das actividades caseiras e dos deveres reprodutivos. Ora essa! Toda a gente gosta de fazer amor!

O que se passa é que, e isso as abéculas sabichonas, não dizem, hoje existem muito mais formas de evitar que nasça um puto de cada vez que se vai prá cama. E, por isso mesmo, o pessoal previne-se, exacta e essencialmente, porque não existem condições para ter filhos.

Quem é que pode depois pagar a ama? a creche? a comida? os cuidados médicos? a escola? os livros? Pá! vão gozar com a puta cos pariu! Agora querem convencer-me que os velhotes vao ter que trabalhar mais porque a taxa de natalidade é baixa!?

Então criem condições para os miúdos, garantam condições de vida aos casais e aos jovens! Agora, não se venham é queixar da baixa taxa de natalidade. Tudo tem uma explicação. Esta é muito simples: não há dinheiro nas famílias, logo não há putos! Com o aumento da idade da reforma não estou a ver como se combate o envelhecimento da população...

As medidas dos governos da direita e do PS são tipo aspirinas... combatem os sintomas, mas nunca, nunca, combatem as causas da doença.

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