Tuesday, January 09, 2007

Praga itinerante

“e têm o desplante de nos oferecer um bónus se acabarmos as cablagens a tempo” Sérgio Cruz, 29 anos, operário fabril na Yazaki Saltano de Ovar.
A yazaki saltano, com o amparo do nosso governo, vem ameaçando o despedimento e o encerramento das suas unidades em Portugal há muito tempo e tem vindo mesmo a concretizar uma redução no número de trabalhadores, empurrando para o desemprego centenas e centenas de operários e operárias. As componentes do capitalismo, as grandes empresas e multinacionais são como uma praga de gafanhotos: desloca-se de colheita em colheita, devastando uma a uma. Estas empresas vagueiam em busca das melhores colheitas e Portugal enquadra-se bem para um bom banquete destas entidades parasitas. Claro que, no quadro da sociedade em que vivemos, as empresas buscam as condições para a obtenção de maior lucro possível e cabe aos trabalhadores estabelecerem as condições em que prestam o seu trabalho.

O que acontece, contudo, em Portugal é que estes gafanhotos são convidados pelo espantalho. Se os trabalhadores fossem as espigas, os gafanhotos seriam a yazaki saltano, o espantalho seria o Governo. Ora, o nosso espantalho decidiu trabalhar para a praga em vez de defender a colheita.

E… no fim de um processo que se anunciava, os trabalhadores choram o seu trabalho que se vai perdendo. Pelo meio, uns senhores na televisão dizem-lhes que não são competitivos porque não gostam é de trabalhar.

Lamento o facto de hoje se fecharem portas perante olhares cabisbaixos, ao invés de enfrentarem punhos erguidos e olhos de esperança. Lamento que, naqueles dias, em que nos deslocámos aos portões da empresa, apelando à luta, muitos não tenham sequer ouvido o que lhes tínhamos para lhe dizer… todavia, quando o povo acorda nunca é tarde!

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