Wednesday, March 28, 2007

O recrudescimento do fascismo

Nas situações de degradação acentuada e generalizada da qualidade de vida, fruto da intensificação das políticas de direita, a condição dos trabalhadores e da população em geral tende a adoptar posturas de ruptura. A acumulação obscena do lucro num punhado cada vez mais reduzido de elites e grupos económicos significa incontornavelmente um fluxo de riqueza no sentido trabalho -> capital. Consequentemente, o empobrecimento do conjunto dos trabalhadores é a primeira condição para o enriquecimento daqueles que detêm posse sobre os meios de produção.

Nesta senda de acumulação crescente de capital, pela via da apropriação das mais-valias, o patronato não olha a meios para inventar novas formas de exploração que lhe permitam obter uma cada vez maior obtenção de lucro. É nesse sentido que a precariezação do trabalho, o aumento do custo de vida e a destruição dos serviços do Estado, juntamente com o aparelho produtivo nacional e do estado, se encaixam perfeitamente com os desígnios da classe dominante.

Ridículo seria pensar que, em algum momento da história, o regime capitalista poderia dar resposta às necessidades dos trabalhadores já que elas são intrinsecamente contrárias às do grande capital.

No entanto, a classe dominante e os estados que se lhe colocam ao serviço não ignoram a capacidade transformadora dos trabalhadores e têm bem presente que a ruptura pode desenhar-se a qualquer momento no quadro da intensificação da ofensiva contra o povo.

O capitalismo caminha num fio de navalha: como obter dos trabalhadores a maior fatia possível dos frutos do seu trabalho sem desencadear a revolta generalizada. Dois grandes caminhos se mostram à partida e que, conforme o estado da luta operária e progressista de cada país, o capitalismo os trilham, ora um, ora outro.

1. o da social-democracia e da contenção dos objectivos do grande capital, alongando as medidas mais ofensivas no tempo, diluindo o efeito catalizador da revolta, ao mesmo tempo que gradualmente se destroem os serviços centrais dos Estados, nomeadamente a Educação, a Saúde e a Segurança Social.
2. o da repressão física, militar e política aberta dirigida contra as classes exploradas nos países onde o nível de organização destas é mais incipiente ou inexistente.

Claro que, na maior parte dos casos, o capitalismo tem um comportamento intermitente entre um e outro (1 e 2) como forma de gerir os fluxos e refluxos da força dos trabalhadores e dos seus movimentos de massas.

Ainda assim, o capitalismo não consegue sempre gerir as suas crises e contradições internas, ou mesmo a sua relação com a exploração do trabalho. É por isso que, nas situações de crise acentuada, nos circuitos do trabalho que se reflectem, claro, nos circuitos do capital, existe uma tendência para a ruptura com o descontentamento. Mas também aí o capital, através das múltiplas jogadas, tem capacidade de resposta pela via de muitos mecanismos instrumentais, todos eles baseados na ampliação do idealismo, contra o raciocínio objectivo, científico e materialista.

Quer seja pela via da criação de bolsas de contenção do descontentamento organizadas para captar inconsequentemente a criatividade e a força do povo, situadas especialmente na dita "extrema-esquerda" (organizações esquerdistas de carácter profundamente idealista e alinhadas com os desejos da burguesia); quer seja pela via da criação de organizações ou tendências fascistas que aparentemente propõem soluções para os problemas das populações, exaltando os sentimentos mais primários do Ser Humano idealista (como por exemplo deus, pátria, família ou raça, heroísmo, honra, orgulho).

É neste quadro que a atenção tende a recair, orientada pela própria classe dominante, sobre estes movimentos embrionários e profundamente inconsequentes no que toca à transformação da realidade e à superação do sistema e das actuais relações de produção.

Confrontado com a necessidade de manter os seus privilégios, ainda assim garantindo a submissão popular, o capital vê-se instigado a fomentar tendências fascistas que, no seu seio preserva. A ruptura com o actual estado de coisas, obtida pela via do recrudescimento fascista e pela repressão, ainda que exaltando os valores idealistas e etéreos a que, por enquanto, muitos trabalhadores e trabalhadoras são sensíveis significa a manutenção dos privilégios da classe dominante - distantes que estão do conceito de raça, pátria, deus, ou família.

A garantia da manutenção dos privilégios, ou seja, da propriedade privada dos meios de produção, inclusivamente, com a certeza do aumento das taxas de concentração da riqueza e da acumulação cada vez mais centralizada do capital é assim contemplada pelo estado fascista que orbita em torno dos desejos mais primários da burguesia e do grande capital de que é dententora ou em que participa.

Por outro lado, a intensificação do combate ao materialismo, à ciência objectiva, ao comunismo e ao marxismo, representa a viva ofensiva contra o fortalecimento da doutrina operária da extinção da propriedade privada e, consequentemente, do estado que a protege.

Garante-se o estado dos privilégios burgueses, a intensificação da exploração do trabalho enquanto simultaneamente se federam os descontentamentos e a revolta do povo trabalhador.

O que presenceamos actualmente não é mais do que a tentativa de empolgar um movimento incipiente de proto-fascistas como forma de garantir a existência real da resposta da burguesia perante as contradições internas do capitalismo. Tudo feito com a alta cooperação do Partido Socialista que prossegue o rumo de desmantelamento das conquistas dos trabalhadores portugueses.

Aproveita este post para apelar a todos aqueles que, compreensivelmente tendem a identificar-se com a exaltação dos valores idealistas e da revolta pelo ódio, que procurem a ciência e a objectividade, para que não se deixem manipular no seu descontentamento por aqueles mesmos que vos querem esmagar.

nota: os resultados das eleições para a Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa são inspiradores da confiança dos democratas e mostram bem a que se resumem as tendências fascistas perante a emagadora maioria do povo português que está com a fraternidade, a amizade, o trabalho, a liberdade e a democracia.

2 comments:

Debaixo do Bulcão said...

Fico satisfeito por ver que alguém teve o bom senso de colocar o assunto em termos racionais. Estava um bocado "cansado" de reacções emocionais sobre o assunto.
Obrigado.

António Vitorino

Samir Machel said...

Pedras:

Andas a competir no tamanho dos textos com os discursos do Fidel?

Abraco

Samir