Wednesday, April 25, 2007

as teses da nova(velha) ordem fascista

Hoje fomos presenteados com o discurso dos senhores. A tribuna da Assembleia da República vomitou mais umas palavras horripilantes para nos lembrar, os fracassos de Abril e a contra-revolução (ainda) em marcha.

Claro que me refiro aos senhores que ali se arrastam pela direita, principalmente os que se prostram aos ditames do capital da forma mais dissimulada. Que o CDS acarinha o passado e o bolor da nossa história recente, que o CDS acha que o 25 de Novembro foi o momento libertador para o país, já todos sabemos e não é com espanto que ano após ano ouvimos o discurso do bafio obscuro desta direita infeliz que tenta governar a embarcação perdida da chamada "democracia-cristã".

O que nem todos sabemos é que há uma direita que se vai refinando, dando resposta às novas exigências ideológicas que se colocam ao avanço do capitalismo, na melhor utilização que se conhece da ilusão, do idealismo e da manipulação.

1. Discurso do Partido Socialista sobre o 25 de Abril: não tocou uma vez que fosse nos direitos materiais e imateriais que a revolução proporcionou, não ousou relevar as caracerísticas opressoras do fascismo. Uma intervenção infectada de verbos de encher, à boa maneira de quem diz poesia para encantar os ignorantes. Uma intervenção de retalhos, longe da realidade do país, incapaz de alertar para os perigos que a nossa pobre e limitada democracia corre. A Senhora Deputada Maria de Belém trouxe-nos infindas citações de franceses, ingleses, professores, poetas, escritores, e outros académicos que teimam em reescrever a história fingindo creatividade, para não reconhecerem que o código interpretativo da nossa história está escrito no materialismo e na dialéctica e no olhar atento à luta de classes.

2. Discurso do Cavaco: este senhor, usando da sua bela prosa e dicção exemplar, que mais parece um esófago afogueado em dia de ressaca num episódio de refluxo gástrico, trouxe-nos a mais bela das teses, que bem caberia nos textos fascistas dessa fantástica doutrina. O senhor presidente da república anunciou hoje o seguinte: "os jovens são o futuro do país". Pasme! em conjunto deliremos perante esta iluminada afirmação, longe que está do lugar-comum e daqueles que teimam em negar à juventude o presente, relegando-lhe sempre apenas o futuro, o inatingível futuro.
Mas não foi apenas esta a mensagem que nos deixou o presidente.
Disse-nos também que a liberdade aí está para quem a quiser usar. Que durante as suas viagens tem visto muitos jovens usá-la da melhor forma, empreendedores, capazes de vingar num mundo tão exigente. Disse-nos nos entretantos que o 25 de Abril estava estafado, que era apenas um feriado, um ritual enfadonho.
O presidente acha que a juventude não se deve resignar, que deve usar do seu afamado inconformismo para romper com o status quo. De facto, as palavras em si, não encerram o seu próprio significado. Atentemos à tese aqui veiculada.
Os jovens devem ser empreendedores e usar a liberdade: aqueles jovens que estão desempregados, mesmo que licenciados, aqueloutros que trabalham a recibos verdes, ou em regime de trabalho temporário a troco de 400 euros por mês, aqueles que não têm casa e vivem já sem vontade na casa dos pais, aqueles que não têm dinheiro para continuar os estudos, aqueles que vivem no interior sem saber sequer o que é uma escola, aqueles que vivem em casa a tratar dos pais doentes, e tantos outros que somam a grande maioria, vivem nestas condições por um único motivo: não querem ser livres, não usam a liberdade. Nunca deixa de me surpreender as formas que o capital desencanta para nos enganar, nos dar baile.
Pelo caminho, ficámos a saber que, para o presidente, a liberdade não tem donos, é de todos, dos ricos e dos pobres, dos patrões e dos trabalhadores, afinal de contas da grande nação que somos todos nós. (não sendo isto idealismo fascizante o que será?)
Escusado será dizer que este presidente conseguiu ludibriar-nos de tal forma entre palavras ofensivas contra a juventude que acabou por não tocar no papel do Governo. O que está mal, está porque não sabemos, principalmente os jovens, usar a liberdade.

3. curiosidade - discurso do Bloco de Esquerda: a senhora deputada do Bloco de Esquerda, Helena Pinto, deixou-nos as seguintes pérolas:
"não podemos permitir o branqueamento do Estado Novo"
"não perimitiremos que nos apaguem a memória"
estranho... porque não "fascismo" em vez de "Estado Novo"(relembro que este era o nome que o regime fascista dava a si próprio), porque não "resitência anti-fascista histórica" em vez de "memória"? é que com isto, conseguiram, de facto, não referir uma única vez a palavra "fascismo" nem dirigir-se por uma vez ao povo. "memória"... palavra inócua essa...

1 comment:

Sérgio Ribeiro said...

Boas pedradas nos canhões.