Monday, June 25, 2012

Capitalismo para Totós XXXIX - Paz Social


Paz social é o termo utilizado pela direita para mascarar o conflito permanente entre os interesses de cada classe. Convém sempre à classe dominante que a classe dominada não decifre e não compreenda que sofre domínio. Na prática, também a um ladrão é muito conveniente que a vítima se julgue a ser amparada em vez de roubada. 

A "paz social" não comporta qualquer dimensão de "paz", pois é apenas o termo utilizado para encobrir uma guerra sem trincheiras, sem fronteiras, uma guerra enraizada e sulcada na matriz genética da organização social capitalista. Uma guerra em que o agressor sabe que agride, mas que atordoa de tal forma o agredido que este se pensa protegido pelo seu próprio inimigo.

A "paz social" não é paz. Não é prosperidade, não é felicidade, não é crescimento, não é progresso. A "paz social" não é harmonia, não é amizade entre as pessoas, entre os povos. A "paz social" não é ver as crianças no jardim e passear nas férias. Não: a "paz social" deles é o empobrecimento, a infelicidade, o desemprego, o retrocesso social e civilizacional. A "paz social" deles é guerra, é roubo, é enriquecimento assimétrico, corrupção. É não ter como deixar as crianças ir ao jardim porque entretanto o crime, a prostituição, a toxicodependência alastram brutalmente. É ficar no desemprego à procura de biscates porque não há trabalho. É não ir de férias porque não há dinheiro. 
Enquanto tudo isso, a "paz social" deles é também opulência, lucros, iates, charutos, ferraris, lamborghinis, jaguares, submarinos, contas em off-shores, banquetes, sapatos mais caros que a nossa casa, desperdício, luxo. 
A "paz social" é tudo isso, desde que tu não protestes. No dia em que protestas, abres a "guerra" e és um vândalo criminoso. 

A "paz social" é o termo que o capitalismo encontra para lançar o anátema sobre todos os que lutam, todos os que protestam. Mussolini fê-lo primeiro, os de hoje seguem-lhe, fiéis, os passos.

Monday, June 04, 2012

Capitalismo para Totós XXXVIII - Caridade

"Caridade" é o termo que designa o conjunto de acções, motivadas ou não por convicção ou convenção religiosa, que consistem na circulação de um bem entre pessoas sem outro fim que não o de manter o desequilíbrio na fruição da riqueza. Ou seja, o suposto desprendimento de um certo bem não se verifica, na medida em que quem doa determina pela doação a continuidade das relações sociais existentes. O pior que poderia suceder para o capitalismo seria os pobres e miseráveis tomarem por suas mãos o que por direito podem ter.

Como tal, o capital e as classes dominantes, determinam assim aquilo que tem direito o pobre. A caridade é o inverso da solidariedade, pois ser solidário implica fazer tudo para que a situação colectiva melhore equitativamente. Ser caridoso implica fazer tudo para que a situação e a relação social se mantenha.

Com a caridade, muitas classes não dominantes são também envolvidas - principalmente por influência religiosa ou ideológica - em mecanismos de caridade, fazendo assim com que os miseráveis recebam alguns bens ou alimentos de outras camadas igualmente pobres da população. Ou seja, o capital e as classes dominantes, para não abdicarem de um milímetro das suas regalias e privilégios, chegam ao cúmulo de colocar os pobres a abdicar de bens para satisfazer as necessidades básicas de outros mais pobres. Com isso, a burguesia mantém as relações de classe intocadas e, com sorte, descansa algumas consciências manipuladas.